Marcos Palácios - Memória de um professor da transformação Nilton Lopes Marcos Palácios, professor que participou ativamente das transformações da Facom/UFBA, conta como se deu a trajetória da faculdade nesses 20 anos de existência. Em meio às comemorações de 20 anos da Faculdade de Comunicação da Universidade federal da Bahia, Facom/UFBA, o professor doutor Marcos Palácios, relembra todos os processos de transformação da Faculdade. Hoje, ele pensa que os próximos 20 anos da Facom ainda são uma incógnita e vai depender da aplicação [ou não] do projeto da Universidade Nova, pensado pela atual gestão da UFBA. “Espero que as características da faculdade como criadora de conhecimento original se mantenha. Que se continue tendo espaço para a pesquisa pura, sem necessidade da aplicação relacionada com o interesse econômico”, diz o professor em crítica ao modelo de Universidade que está se propondo a ser implantando na UFBA em oito anos. Marcos Palácios acredita que a faculdade não deve ser pensada apenas na perspectiva do ensino, mas também na produção de conhecimento original. “A gente, enquanto universidade pública, produz 90% ou mais do conhecimento novo e devemos lembrar disso”, afirma. História de luta Palácios aportou na Facom/UFBA em 1986, recém chegado da Universidade Federal do Pará, onde participava do núcleo de altos-estudos amazônicos. Ele foi para o norte do Brasil depois de receber o título de doutor, ainda na Inglaterra nas décadas de 70 e 80. Quando chegou em Salvador, o professor encontrou uma faculdade em período de transição, tanto no nível institucional, quanto no nível acadêmico. “No nível institucional, porque era naquele momento que se criava a Faculdade de Comunicação separado de Biblioteconomia e acadêmico pelo começo da implantação da pesquisa nos estudos de jornalismo”, afirma Palácios. Antes, apenas o ensino técnico com algumas disciplinas teóricas compunha o universo do ensino do jornalismo. O professo chega quando se monta um primeiro Curso de Especialização em Comunicação Comunitária, do qual fazia parte nomes que até hoje compõe o corpo docente da faculdade como os professores Albino e Linda Rubim e outros que não fazem mais parte do Departamento de Comunicação como Othon Jambeiro, Sônia Serra e Antônio Dias. O professor Marcos Palácios acredita que teve aí início o pensamento de estrutura acadêmica como a faculdade se estabelece hoje. “Foi aí que começamos a pensar de verdade o curso, suas perspectivas. Quando terminou o curso de especialização, se dá início já o primeiro mestrado da Facom, ainda na sede no Canela”, comenta. Sobre a transformação da estrutura física da Faculdade de Comunicação, o professor relembra com diversão. Ele remota da existência do vídeo experimental feito por estudantes que se chama “O divórcio” que retrata a separação da Faculdade de Comunicação da de Biblioteconomia, quando esta estava sob a gestão do, até então vice-diretor da EBC - Escola de Comunicação e Biblioteconomia, Antônio Dias. A partir das discussões entre a teoria e prática da comunicação, das várias reformas curriculares do curso de jornalismo, e do começo da participação dos estudantes em pesquisas como nas primeiras bolsas de iniciação científica e na criação do PET – Programa de Educação Tutorial, do qual o professor Palácios foi o primeiro tutor, foi que a estrutura física da Facom começou a ficar pequena no prédio onde hoje se localiza o Instituto de Ciências da Saúde da UFBA, no Canela. “Durante a gestão como diretor do professor Albino Rubim e a minha gestão é que as batalhas por um outro espaço se travaram, unidos estudantes e professores numa só causa”, lembra Palácios. Foi quando perceberam a existência de um prédio todo em ruínas da Universidade que, segundo o professor Marcos Palácios, na época apenas algumas câmaras frigoríficas para manutenção da alimentação da residência universitária da Vitória. A mudança Marcos Palácios lembra da importância da parceria dele com o professor Albino Rubim, para que essa mudança acontecesse de fato. Depois da histórica reunião do Conselho Universitário, Palácios e Albino, então criam um projeto de adaptação e acompanhamento dessa mudança. O momento de mudança também foi marcado por um momento especial na estrutura científica e acadêmica. Houve nessa época um projeto de qualificação profissional do corpo docente na Facom, grande responsável pela qualidade da produção acadêmica da faculdade até hoje. “Quando cheguei aqui na Facom, era o terceiro professor com doutorado, desde 1988 essa prática da qualificação dos nossos professores se dá com muita eficácia e forma esse corpo excelente que temos hoje”, lembra o professor. Para Marcos, essa mudança melhorou em muito as condições de trabalho da faculdade, o que fez se repensar o currículo quando se incluíram as oficinas, agora que os laboratórios tinham boas estruturas de funcionamento. “Na sede antiga os laboratórios eram salas de aulas normais. Algumas tinham ainda máquinas de datilografar e tinham pichações na porta como ‘Jurassic Park’ e até ‘escolinha de datilografia’”, rememora com diversão. A partir daí faculdade foi se desenvolvendo como um importante campo do saber dentro da UFBA. Foi então que, em 1995, junto com o professor Elias Machado que o professor Marcos Palácios começa a criar o Grupo de Jornalismo On Line, seu maior projeto hoje dentro da faculdade. Palácios recorda que no começo eram só dois pesquisadores que desenvolviam uma pesquisa e uma disciplina optativa chamada jornalismo na Internet. Nessa época foi criado o 1° jornal on line da faculdade que se chamou “jornal incomum” [www.facom.ufba.br/prod/lugar/] que depois se transformou em revista digital [www.facom.ufba.br/lugarin/index.html] e ais tarde a produção laboratorial de observação do jornalismo digital chamado “O Panópticon”. Em 1996 um outro marco importante para o grupo foi a publicação de um manual de jornalismo na Internet, que hoje se tem como registro histórico. Mas foi em 1998 que o grupo se formalizou. A partir daí o Grupo tomou corpo, se transformou em grupo de estudos que participa da linha de pesquisa em cibercultura do programa de pós-graduação da UFBA, com estudantes de mestrado e doutorado e bolsistas de iniciação científica. Hoje o grupo é a referência no país na produção de conteúdo científico sobre o jornalismo digital. “A gente está desenvolvendo alguns projetos internacionais como é o caso do PRONEX entre o Brasil, Argentina e México e o Projeto Brasil/Espanha que tem a nossa coordenação”, relata Palácios. Palácios e a Facom Sobre sua relação com a faculdade o professor Palácios fala com muito prazer da forte ligação que tem com essa escola, já que se sente ator de todo o processo de transformação do ambiente. Assim se sente ter contribuído, desde quando diretor da faculdade, da manutenção da qualidade do que se faz até hoje na Faculdade de Comunicação. “Sinto que o que foi feito de positivo aqui eu tive e tenho uma parcela de participação”, conclui.
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