Histórico e entrevista com o prof. José Benjamim Picado

Rafael Lauria Raña Viana

José Benjamim Picado Sousa e Silva, conhecido como Benjamim, é, atualmente, professor adjunto da Faculdade de Comunicação (Facom) da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Ele ensina a disciplina Semiótica, do curso de graduação; é professor e membro do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporânea (Pós-Com), ministrando a disciplina Teorias do Signo e da Interpretação-Práticas em Metodologias de Análise da Imagem na Cultura Mediática; além de fazer parte do conselho editorial da revista "Contemporânea: revista de comunicação e cultura contemporânea", pelo Programa da Pós-Com. Também, é coordenador do Grupo de Pesquisa em Ánalise da Fotografia (GRAFO), no qual se desenvolve o Projeto Gramáticas da Semelhança: do drama visual pictórico ao discurso visual na fotografia. O GRAFO é um grupo de pesquisa da Pós-Com que conta com mais quatro pesquisadores além de Benjamim.

Benjamim é professor da Facom desde 1988 e possui Bacharelado em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Sua formação acadêmica também inclui Mestrado em Comunicação pela Universidade Federal de Brasília (UNB), Pós-graduação em Ciências da Comunicação pela Universidade Nova de Lisboa (UNL), Doutorado em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e Pós-Doutorado na Universitè Paris 1 (Panthéon-Sorbonne), SORBONNE, França.

Entre as atividades desenvolvidas pelo professor foram publicados 8 capítulos de livros, 11 artigos em periódicos especializados e 19 trabalhos em anais de eventos. Possui 38 itens de produção técnica, orientou 5 dissertações de mestrado, 5 trabalhos de iniciação científica e 6 trabalhos de conclusão de curso nas áreas de Comunicação, Letras e Artes no total.

  • Entrevista

O que o fez vir para a Faculdade de Comunicação da UFBa inicialmente?

Tive informações sobre o concurso para docentes na Facom, na área de Teorias da Comunicação, quando ainda cumpria meu Mestrado, na Universidade de Brasília. Através de um professor meu, Venício Arthur de Lima, tive informações de que o grupo de professores que conduzia o Programa de Pós-Graduação em Comunicação na UFBA era dos mais promissores no país, e que esta era uma ótima oportunidade para o início de minha carreira acadêmica. Aceitei o desafio quase que imediatamente e prestei o concurso, no fim do ano de 1988, passando em segundo lugar e vindo a ser efetivado em março de 1990.

Como qualifica sua experiência na Facom desde que entrou nessa instituição? Gostaria que falasse um pouco daquilo que lhe foi mais edificante desde então e sobre as dificuldades que enfrentou.

De um modo geral, considero que a minha experiência na Facom tem sido mais do que satisfatória. No contexto do trabalho com a equipe de colegas com os quais interagi mais frequentemente nos 16 anos que estou aqui, posso dizer que alcancei uma posição de visibilidade na minha área de pesquisa que se deve ao fato de eu ser um docente desta casa. Do ponto de vista pedagógico, me sinto em uma situação permanente de aprendizado, jamais me supondo confortável na posição de quem tem que dar uma suposta palavra final sobre os assuntos sobre os quais ensino (sem contar que estes são, não raro, de difícil entendimento por parte dos alunos, sobretudo, aqueles que chegam a mim ainda no início do seu percurso de formação).

Como aconteceu de ingressar no PósCom?

Quando me tornei professor pela UFBA, não havia ainda concluído meu Mestrado, mas desde que ingressei na Facom, procurei me inteirar sobre o trabalho da Pós-Graduação, freqüentando todas as reuniões do colegiado do curso, mesmo não sendo membro efetivo deste. Pouco depois da obtenção do título de Mestre em Comunicação, comecei a me integrar nas atividades de ensino e orientação do Programa, sempre sob a instrução de algum docente mais experiente, na forma de módulos de trabalho. Após o fim de meu Doutorado, em 1998, me efetivei no quadro dos professores permanentes do Programa, estando ativo no mesmo desde então, oferecendo orientação, ensino e pesquisa, em nível de Pós-Graduação, e tentando integrar nossas ações às de outros Programas em minha área específica de interesse no Brasil e no exterior,

Em que nível considera satisfatório o ensino de graduação e pós-graduação da Facom atualmente? Em que pontos acredita que há êxito e em que se poderia melhorar?

Acho que sempre há espaço para o aperfeiçoamento de nossas ações na Faculdade, e o ensino graduação e de pós-graduação não escapa a esta regra. No último caso, temos avançado enormemente na consolidação das atividades de pesquisa, de maneira a fundamentar o ensino oferecido no Mestrado e no Doutorado a partir da dinâmica do trabalho científico dos grupos de pesquisa. Houve resultados animadores em todos os indicadores de nossa avaliação pelas agências competentes (prazos de defesa, pertinência dos projetos na área de concentração, volume da produção intelectual docente e discente, entre outros). No caso da graduação, sinto que ainda precisamos dedicar um pouco mais de energia intelectual para o aperfeiçoamento da formação de nossos estudantes, assim como considero que ainda respondemos de maneira tímida à necessidade de ampliarmos o escopo da formação que oferecemos (poderíamos ter mais habilitações e uma melhor oferta de conteúdos para a formação da graduação). Considero que o aperfeiçoamento da graduação ainda é um desafio não suficientemente enfrentado por nós, na discussão sobre os destinos da Faculdade.

A idéia de criar o GRAFO foi sua? Há alguma razão especial para a escolha do enfoque temático?

A idéia foi minha, mas ocorreu no contexto de uma série de mudanças do foco temático da pesquisa, em alguns investigadores da Escola. Em meu caso, eu sentia que necessitava ancorar certas preocupações minhas com o universo conceitual das teorias do signo e da estética, no campo da comunicação, com o estudo efetivo de fenômenos comunicacionais que pudessem ser examinados à luz destas categorias. Nestes termos, o estudo das regências textuais do campo da imagem me pareceram um campo de provas interessante para a investigações de certos conceitos, como o de semelhança icônica, por exemplo. Ademais, no contexto do trabalho de análise, me vi defrontado com a necessidade de ampliar o espectro das teorias e métodos com os quais vinha trabalhando, até então, para contemplar contribuições analíticas das teorias e da história da arte, assim como de certas vertentes das teorias estéticas.

Você acredita que os alunos têm dificuldade de aprender Semiótica, disciplina que ensina atualmente?

Acho que a disciplina impõe um desafio aos alunos, em geral, que é o de pensar sobre certas questões, num registro mais abstrato e distante da experiência que temos sobre problemas como os do “significado”, “interpretação” e coisas como essas. Trata-se de uma disciplina eminentemente teórica, com graus de aplicação ao universo da comunicação que decorrem desse seu caráter mais especulativo e cujos benefícios, por isso mesmo, somente podem ser apreciados suficientemente por aqueles que se dispuserem a olhar de maneira mais abstrata para certos tipos de problemas característicos de nosso campo de estudos e de formação. Tudo isto considerado, eu tenho feito um esforço, no decorrer dos últimos anos, de tentar franquear da menor maneira possível, a compreensão sobre a relevância desse assunto para a formação do comunicador, a partir da consideração de casos concretos e de exemplos de campos diversos da atividade do comunicador ou de seus correlatos.