Gonçalo Júnior Mariana Rocha A Facom comemora 20 anos. Para cada estudante faconiano, uma Facom. Descrevo aqui a Facom de Gonçalo Júnior, jornalista, estudante da Faculdade de 1989 a 1993, época tumultuada UFBA; foram duas as greves nesse período, ambas com mais de 200 dias de paralisação, tempo o bastante para que, segundo ele, alguns alunos que não suportaram as incertezas da Universidade desistirem do curso, irem estudar na UCSal ou mudarem de cidade. Dentre aqueles que persistiram e continuaram fazendo parte desta mesma turma estão Carla Virgínia (Carla Visi), Sérgio Machado (diretor do filme Cidade Baixa), Ana Cecília (que interpretou a prostituta Valderez na novela Paraíso Tropical), Roberta Sampaio (editora do suplemento feminino do jornal “O Estado de S. Paulo”) e Mariana Carneiro (uma das coordenadoras do jornal “A Tarde”). Naquele momento, as turmas e o prédio da escola eram pequenos, não se sabia quem era de qual ano. As turmas de 1987 a 1990 ficaram muito próximas por se cruzarem em várias disciplinas e em diferentes unidades (como São Lázaro e Ondina). De certo modo, a integração foi ajudada pelo papel de inocente útil que os calouros tiveram ao chegar, pois a Facom estava em pé de guerra com a reitoria. Em especial, o reitor Rogério Vargens que, em reação, passou a boicotar a escola retendo verba e material. Ele teria nomeado, autoritariamente, como diretor da escola, Ailton Sampaio, sem respeitar a escolha dos alunos. Na opinião de Gonçalo, talvez por ser uma escola nova, a Facom era tocada por um provincianismo e uma falta de profissionalismo sem tamanho; nas palavras do próprio entrevistado - “aconteciam coisas que pareciam ter sido inspiradas nos filmes surrealistas de Luis Buñuel”. Havia uma rixa entre os departamentos de comunicação e jornalismo. O primeiro não media esforços para se sobrepor ao segundo. Havia discussão até mesmo para acabar com o curso de jornalismo e criar algo mais teórico, do tipo indústria cultural. “Nada mais paranóico. No fundo, essas pessoas eram jornalistas frustrados que não conseguiram se estabelecer no mercado por incapacidade de fazer a intercalação entre dois parágrafos”. Essa rivalidade dos teóricos gerou episódios, segundo Gonçalo, patéticos. O entrevistado descreveu um certo começo de tarde em que chegou para uma aula, a escola estava vazia e viu dois professores da Escola “agarrados” a um computador que havia sido doado naquele dia pelo reitor, a pedido pessoal dos alunos da disciplina de informática – cuja professora ensinava aos alunos com o desenho de um PC no quadro porque só se tinha máquina de escrever. “Foi uma disputa de força e muita gritaria, ofensas e agressões; um gritava que a máquina pertencia ao departamento, a quem cabia definir as prioridades”. Mas a Facom tinha coisas positivas. Como as oito disciplinas de cinema que eram oferecidas por excelentes professores como André Setaro e Umbelino Brasil, cuja relação de respeito e cumplicidade com os alunos faziam a diferença. Umbelino tinha uma incrível capacidade de lidar com os alunos que facilitava até mesmo as disciplinas de teoria que ensinava. Na parte de jornalismo, havia mestres que representavam o que havia de melhor entre os profissionais do mercado como Florisvaldo Mattos, Emiliano José, Washington Filho, Paolo Marconi, Vera Tanajura, Ailton Sampaio (fotojornalismo) e Victor. Ao ser questionado sobre o que a formação na Faculdade teria agregado à sua carreira, o jornalista afirma que sempre encarou a faculdade como um complemento da formação profissional que o aluno deveria buscar por iniciativa própria, uma orientação importante nesse sentido. E não o contrário. Foi o período em que mais leu, viu filmes e pesquisou na sua vida, motivado pelas descobertas que a escola o permitiram e provocaram. “Fazia a minha parte menos por obrigação e mais por prazer”. Talvez pela paixão declarada de Gonçalo por jornalismo e cinema. Considerava a Facom sua casa, participava de tudo, procurando não ser influenciado pelos percalços. Porém, ao sair da Faculdade, formado, estranhamente, jamais voltou lá. Sobre a situação atual, em relação ao mercado, Jr pensa que o mercado encolheu e há muitos novos cursos de jornalismo na cidade. Um aspecto ressaltado por Gonçalo é que as quatro primeiras turmas da Facom, que ingressaram entre 1987 e 1990, todos entre 33 e 40 anos de idade hoje, ocupam o maior número de cargos nos jornais de Salvador – Correio da Bahia e A Tarde. Muitos até em postos de comando. Alguns nomes: Ana Paula Ramos, Simone Ribeiro, Josélia Aguiar (que edita aqui em São Paulo a revista ENTRELIVROS), João Carlos Sampaio, Marcos Uzel, João Alecrim, Luis Sampaio (trabalhou na Veja durante muito tempo), Geraldo Bastos, Núbia Cristina, Ana Rita Freitas, Dóris Miranda, Ana Cristina Pereira, Monique Mello, Silvana Inahim, Luciana Nunes, Paulo Leandro, José Pacheco Filho, Cecy Alves, Ludmila Duarte, Ludimila Rosa (ex-MTV e atriz), Herbert Henning (TV Cultura), Kátia Borges, Mariana Carneiro, Adelmo Borges, Alexandre Augusto (diretor da Propeg), Edson Rodrigues, Andréa Nascimento, Nadja Vladi, Neyse Cunha Lima. “Treze anos se passaram desde que a última dessas turmas se formou e o pessoal que está na ativa majoritariamente está entre elas”. Gonçalo Jr. sentiu-se beneficiado por ser formado pela Facom principalmente quando foi escrever sobre cinema no suplemento de cultura do jornal “Gazeta Mercantil”, onde ficou de 1995 a 2003. Fez todas as disciplinas da Facom e lia compulsivamente biografias e livros teóricos sobre o assunto, além de ver muitos filmes. Em 1990, ele, João Carlos Sampaio e Sérgio Machado criaram na Facom o Cineclube Brancaleone, que durou alguns meses e acabou porque o projetor quebrou e não havia verba para consertar. Várias mostras foram feitas com sucesso. Foi na Facom que Gonçalo Jr. começou suas pesquisas sobre censura nas histórias em quadrinhos, que já renderam alguns livros. No momento, ele vem finalizado um volume que veio do seu trabalho de conclusão de curso sobre a censura às revistas de sexo na ditadura militar, que, provavelmente,sairá até dezembro pela Companhia das Letras (que publicou a primeira parte, “A Guerra dos Gibis”, em 2004).
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