Florisvaldo Mattos Heider Mustafá Florisvaldo Mattos é editor-chefe do Jornal A Tarde, professor, poeta e advogado. Saiu do sul do estado, onde morava, para estudar no Colégio da Bahia, em Salvador. Com peculiar interesse pela literatura e o aprofundamento nos estudos de filosofia e sociologia, começou a debater e discutir, ainda na colégio, assuntos ligados à política, chegando a filiar-se à esquerda socialista - ação que o direcionou para os estudos do Direito. Pertencente a um grupo de intelectuais liderado por Glauber Rocha, a Geração Mapa, Florisvaldo já possuía um feeling especial por arte, literatura e poesia, que o fez ser editor-chefe da Revista Anglos – revista de cultura da Faculdade de Direito da UFBA. Em seu último ano de Direito, surgiu o Jornal da Bahia com a proposta de competir com o A Tarde, de Ernesto Simões Filho, e com o Diário de Notícias, de Assis Chateaubriand. A idéia do Jornal da Bahia de criar uma redação jovem fez com que Florisvaldo e alguns de seus companheiros como Glauber Rocha, Paulo Soares e Calazans Neto, compusessem a primeira equipe de reportagem junto com os outros jornalistas mais experientes vindos do eixo Rio-São Paulo. Esse entusiasmo do primeiro emprego uniu poesia, arte, literatura e gerou a paixão pelo jornalismo. “As idas às mesas de bar depois do expediente para conversar e discutir assuntos políticos, econômicos e o dia-a-dia da redação também fizeram com que nos apaixonássemos pelo trabalho. Foi por isso que nunca advoguei, apesar de ter me formado”, comenta Florisvaldo. O Professor - “Em 1958, a última turma de Jornalismo da UFBA findava com apenas um aluno graduado. A faculdade fechava suas portas, que só seriam reabertas quatro anos depois, em 1962, pelo esforço do jornalista Jorge Calmon”, conta Florisvaldo que, assim como Calmon, fez parte do grupo de professores que acompanhou a reestruturação da faculdade há 45 anos. Na época, Jorge Calmon e João Batista Lima e Silva convidaram Florisvaldo para lecionar Técnicas de Jornal I. O convite veio por causa da sua larga experiência como chefe de reportagem do Diário de Notícias e correspondente do Jornal do Brasil aqui na Bahia, depois de ter feito estágio no Rio de Janeiro. A partir dos anos 70, com o aprofundamento dos estudos em ciências e teorias da comunicação, Florisvaldo se interessou pelo conhecimento teórico, mas sem se desligar da prática jornalística. Como professor, foi duas vezes chefe de departamento e de colegiado. Como chefe de departamento, criou o primeiro Jornal Laboratório da Facom. Os equipamentos fora, comprados e os alunos produziam os jornais que saíam de dois em dois meses através de um acordo com o Jornal A Tarde. No começo da década de 80, Florisvaldo integrou a comissão de reforma do currículo do curso de comunicação. Com ela, o Jornal Laboratório tornou-se matéria obrigatória e ele passou a ensinar Prática Jornalística II e Edição. Os alunos redigiam as matérias e aprendiam a editá-las. Depois de 32 anos de vida acadêmica intensa, o professor Florisvaldo parou de lecionar em 1994, dentre outras coisas, pelo desânimo que contagiava a juventude da época. “Não tive mais ânimo para ensinar. Os jovens estavam desanimados, sem compromissos e sem amor à profissão”, lamenta. Facom: teoria e prática - Quando Florisvaldo deixou de ensinar, os primeiros professores da área de cultura já começavam a introduzir seus estudos na Facom. Florisvaldo reconhece e apóia os estudos culturais na área jornalística, mas não concorda com a exacerbação da teoria em detrimento da prática, pelo menos no jornalismo. “Entendo que hoje em dia, com o grande enfoque dado à cultura, à literatura, às artes de modo geral, é imprescindível que se tenha bastante bagagem teórica para qualquer tipo de discussão sobre tais assuntos. Esse é um lado enriquecedor, mas que pode causar um empobrecimento da prática jornalística, se o curso for focado 100% nisso”, explica. Entretanto, para Florisvaldo, o legado que a Facom pode deixar para a sociedade é muito grande, inclusive por esse seu lado envolvido na discussão cultural. Já na área jornalística, para ele, “a Facom contribuirá ainda mais se discutir a crise do jornalismo impresso que, apesar de uma queda vertiginosa na vendagem em todo o mundo, ainda é a maior fonte de saber e informação para a sociedade”. E salienta: “formar profissionais de qualidade e que queiram reerguer o jornalismo impresso é o maior desafio da Facom e uma tarefa fundamental para o jornalismo mundial hoje”. Diploma e Mercado - Um dos debates mais calorosos da área jornalística hoje em dia é sobre a obrigatoriedade do diploma de jornalista. Florisvaldo já foi um radical quanto à defesa do diploma. “A profissão exige uma formação universitária”, diz. Hoje, ele acha que o jornalismo não deve fechar as portas pra talentos de outras áreas, mas a prioridade deve ser de quem tem o diploma e estudou para consegui-lo. “Defendo que essas pessoas devem ter nível superior e um curso complementar pra aprender as técnicas jornalísticas, se adequando à profissão. Elas passariam por uma espécie de quarentena cultural do jornalismo”, completa. Como editor-chefe do jornal de maior circulação da Bahia, Florisvaldo Mattos dá preferência aos profissionais oriundos da Facom. “O ensino superior público ainda tem mais estrutura, tradição e sedimentação. A universidade, como um todo, oferece muita coisa que compõe a maturação e formação do estudante. O aprendizado na Facom é mais universalizado, mais voltado para discutir a realidade”, conclui.
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