Entrevista Luciano Matos Thaise Muniz Luciano Matos, que ingressou na Facom em 1994, é colunista do Caderno10! do Jornal A Tarde e é responsável pelo blog El Cabong, um dos mais importantes do cenário do rock baiano. O titulo do blog corresponde ao codinome do jornalista. Matos é o autor do incensado prêmio Rock Independente, que aponta os melhores do ano em diversas categorias tipo banda revelação, banda do interior, selo, imprensa/Internet, festa, dentre outras. É ainda idealizador, promoter e DJ residente da animada festa Nave. Saindo um pouco do cenário do Rock, Luciano atua como freelancer, produzindo programas na rádio A Tarde FM e assinando textos para o jornal A Tarde. Na entrevista Luciano fala um pouco da sua experiência na época em que foi aluno da Facom, relembrando os velhos tempos. TM - O que levou você a escolher esse curso e a Universidade Federal para cursá-lo? LM - Bom, acho que jornalismo reunia algumas coisas que eu gostava. Passar informação, contribuir para que o mundo pudesse melhorar, eu gostava de escrever também, tinha a ver com as coisas que eu gostava. A Federal sempre foi melhor, todo mundo sabe disso, então era o caminho que eu queria. TM - Quais dificuldades enfrentadas no que diz respeito à qualidade de ensino e infra-estrutura na época em que estudaram na instituição? LM - Eu já estudava numa faculdade particular antes de entrar na Facom, acho que por isso eu reclamava menos do que as pessoas que tinham experiência apenas na UFBA. A diferença era, deve ser ainda, brutal. Eu me sentia lendo um manual de instruções, pequeno, prático e limitado, na particular. Já na Facom é como se abrissem uma enciclopédia. Eu poderia aproveitar em vários aspectos, havia chance de me aprofundar não só na profissão, mas na parte teórica, no estudo de comunicação e em outros campos que uma universidade permite. Claro que havia problemas. Quando entrei a faculdade ainda era no Canela, com poucas salas, uma estrutura deficiente, mas havia muito interesse dos alunos, um clima de querer saber das coisas, crescer, nem tanto voltado e preocupado com mercado, isso parecia que seria conseqüência. Mas meio que uma efervescência de cultura, informação, música, cinema, política. Parte dos professores estimulava isso, mostravam um mundo novo, diferente do que a gente via em colégios. Uma realidade diferente, que servia como alternativa para quem não era conformado com tanta banalidade. Faltava estrutura, faltavam equipamentos, faltavam professores, mas mesmo assim funcionava muito bem. TM - Você acha que o fato de ter estudado na Universidade Federal da Bahia facilitou a entrada no mercado de trabalho? LM - Eu acredito que uma universidade federal ainda impõe respeito, é muito mais amplo, forma muito melhor. Acredito que amplia a visão de mundo e acho que ajudou sim a entrar no mercado. Mas acho que é muito particular isso, muito de cada um dentro da universidade. TM - A Facom é considerada uma faculdade que acolhe, principalmente, os ritmos mais alternativos. Geralmente os faconianos curtem ritmos que nada têm a ver com o estereótipo da Bahia "axezeira". O fato de você, na sua profissão, ter enveredado no mundo do rock, teve alguma influência do ambiente faconiano ao qual você conviveu quando estudante? LM - Essa característica da Facom já foi mais forte. Ainda existe, sem duvida, mas é bem menos representativo que há alguns anos. Acho que não serviu muito para meu caso, porque eu já tinha essas influencias de ouvir rock , mas não só rock. Acho que serviu, como em toda faculdade para alargar os conhecimentos, e não só no mundo rock, nem tampouco apenas com música. Acho que qualquer faculdade deve servir para vermos um mundo diferente do que estamos acostumados no segundo grau e a Facom ajuda muito nisso, me ajudou sim, mas eu já entrei com 20 anos, não era o mais novo da turma. TM - Você considera que a Facom também influencia no gosto cultural dos alunos? Você se sentiu de certa forma influenciado? LM - Obviamente que sim, influencia não apenas no gosto, mas na visão de mundo e de cultura que os alunos possuem. Normalmente as pessoas entram na faculdade com um conhecimento muito raso, seguindo muito o que é determinado pela mídia, o gosto mediano, sem muito aprofundamento. A faculdade sem dúvida oferece oportunidade de conhecer outras realidades, outros universos, a Facom influenciou sem duvida. Não é qualquer faculdade que tem aulas voltadas para cinema com um dos maiores críticos do Brasil. André Setaro tem uma visão ampla de cinema, apresentou para mim e para qualquer um que passou pela faculdade uma visão diferente de cinema, assim como outros professores e determinadas disciplinas. O aluno tem seu lado critico estimulado, aprende sobre estética, semiótica e é quase impossível não ter seu nível cultural e sua visão alargada para que se saiba o que se consome, como aquilo é produzido etc.
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