Ailton Oliveira

Larissa Martina

Nascido cidade de Nazaré das farinhas, há 59 anos, Ailton Oliveira sempre estudou em colégios públicos, mas sempre foi um aluno muito esforçado. Quando teve a oportunidade de prestar concurso público não pensou duas vezes. Ele precisava do trabalho, afinal estava formando sua família, hoje composta por sua mulher e seus três filhos. Ficou então muito contente quando passou e recebeu um cargo na Universidade Federal da Bahia.

Assim, quando veio trabalhar no curso de Jornalismo, em 1972, ele ocupava o cargo de Chefe de Apoio administrativo. Naquela época o curso havia sido separado da administração da faculdade de Filosofia e fora deslocado para a escola de Biblioteconomia, que depois da Reforma Universitária de 1969 passou a ser chamada de Escola de Biblioteconomia e Comunicação. Segundo ele, as brigas internas na Escola decorrentes das diferenças entre os alunos dos dois cursos eram muito comuns, e além disso sempre havia discussão por causa do gerenciamento dos recursos financeiros que iam para a instituição.

Problemas administrativos

A vida administrativa do curso de Jornalismo não era muito fácil. Aílton nos conta que o processo para escolha do diretor para a instituição sempre foi meio conturbado. Ele lembra de dois episódios marcantes. O primeiro deles aconteceu em 1987, depois que o reitor Rogério Vargens foi nomeado pelo MEC, mesmo não sendo o mais votado pelos alunos e funcionários, “talvez devido a sua relação de amizade com ACM” especula ele. Depois de empossado, Vargens usou o poder de sua posição para nomear Ailton Sampaio para a direção da Facom.

Mas acontece que Sampaio tinha uma enorme quantidade de opositores dentro da faculdade. Foi um briga tão grande no dia de sua posse, que ela teve de ser feita na delegacia da polícia federal. Ailton conseguiu, nessa época, manter seu cargo de Chefe de Apoio em meio a uma série de afastamentos que se sucederam a partir da nomeação de Sampaio. Isso porque se mostrou sempre simpático, conseguia trabalhar e relacionar bem com qualquer grupo dentro da faculdade.

O segundo episódio interessante diz respeito à posse do Diretor Ruy Espinheira. Ele foi eleito para ficar à frente da escola logo que o Ailton Sampaio terminasse seu mandato. No entanto, o então diretor não gostava muito da idéia de Ruy ocupar seu cargo. Para então tentar atrapalhar a sua nomeação para o MEC, Sampaio simplesmente não enviou a documentação necessária para o Ministério. Só depois de uma briga judicial, com direito a recorrer em primeira e segunda instância, foi possível que o MEC finalizasse os trâmites legais para empossar Ruy Espinheira.

A “invasão do Canela”

Para Ailton, o episódio mais memorável da história da Facom foi a chamada “invasão do Canela”. Havia um prédio vazio, perto da Escola de Biblioteconomia e Jornalismo, porque a Biblioteca Central que funcionava lá se mudou para Ondina. A idéia inicial era que o curso de Biblioteconomia se mudasse junto com a biblioteca, mas isso não aconteceu segundo Aílton “porque o nome do curso não iria aparecer na frente do prédio da Biblioteca”, relembra.

Acontece que, com o prédio do Canela vazio, várias outras escolas pensaram em ficar com o espaço e, por isso, esperar até que a UFBA decidisse se cederia o prédio a algum curso, poderia ser tarde demais e o curso de Comunicação poderia perder esta chance. Foi então que, uma noite, os estudantes de Comunicação resolveram invadir o prédio para assegurar a sua posse. Ailton lembra ainda que aconteceu uma procissão na ocasião, com a santa Ediviges, a das “causas impossíveis”, a frente dos alunos, funcionários e professores.

Anos mais tarde, já em 2000, outra mudança física acontece na Facom. Aílton nos conta que a mudança da Faculdade do Canela para Ondina não foi tão conturbada quanto a outra. Havia mais uma vez um prédio sobrando - o prédio do antigo restaurante universitário, fechado na época há quase 10 anos pelo próprio Governo Federal – e a Faculdade de Comunicação precisava de mais espaço. Mesmo com os protestos por parte do DCE, que não podia ver a sua última chance de reabrir os restaurantes universitários ir embora, a mudança deu-se pacificamente.

Os estudantes

Por fim, Aílton, que depois de ter sido Chefe de Apoio já trabalhou como Secretário da Pós e do LabFoto, lembra com uma certa saudade dos alunos no prédio do Canela. Ele diz que mesmo com o fato dos alunos daquela época terem sido um tanto mais problemáticos – aconteciam alguns casos de roubo e vandalismo por parte do corpo estudantil da Faculdade de Comunicação – eles eram bem engajados com os assuntos de sua instituição de ensino, ao contrário dos alunos de hoje.