Doris Miranda

Maria Clara

“Desde que me entendo por gente, leio e coleciono quadrinhos. Nada mais natural que meu trabalho fosse voltado para isso também. Principalmente agora que o mercado editorial do Brasil parece ter entendido que a nona arte pode ser economicamente viável”.

Jornalista do caderno de cultura do Correio da Bahia, Doris Miranda, 35 anos, formou-se pela Facom em 1994. Desde pequena se interessava pelas Histórias em Quadrinhos (HQs), principalmente por Sandman, de Neil Gaiman, e foi através desta afinidade com o meio cultural que optou pela carreira de jornalista. Doris se destaca na profissão por ser a única mulher na Bahia a escrever sobre Histórias em Quadrinhos em um veículo de comunicação formal.

Hoje no Brasil existem cerca de 15 editoras especializadas em HQs, que publicam o melhor da produção internacional e brasileira. Conseqüentemente, o número de matérias sobre o assunto vem aumentando com o passar dos anos. “Até um tempo atrás, pouco se lia sobre quadrinhos nos jornais de Salvador. Era um universo ainda mais restrito do que é hoje. Desde que comecei a produzir matérias sobre o assunto, pude observar um retorno disso. Recebo e-mails de leitores, trocando idéias, querendo saber mais”, conta satisfeita.

Outra paixão dessa ex-faconiana é a música feita em Salvador, mas nada de axé ou pagode. Totalmente inserida no meio musical underground, Doris acompanha o rock local desde o fim dos anos 80. “Vi muita banda importante nascer e morrer e sei que temos uma diversidade imensa na cidade. Mas acho que um dos nossos maiores problemas é a falta de produção cultural, de gente que acredite na diversidade e invista”, adverte.

A Facom

Quando ingressou no curso em 1990, Doris sentiu a necessidade de estagiar cedo devido à precária estrutura do curso. “Na Facom, no início dos anos 90, a gente não tinha acesso a nada. A escola era um caos. Não tínhamos nenhum laboratório funcionando - a não ser o de fotografia e o de rádio -, não tínhamos equipamento, computadores e quase nada de prática de jornalismo. Então, era fundamental trabalhar”, relata a jornalista.

Já nessa época, as disciplinas enfatizavam a teoria da comunicação. “Em um curso de Comunicação a teoria é muito importante, mas a formação era em Jornalismo, e isso eu aprendi na rua, trabalhando”. Ainda cursando a Facom, Doris trabalhou no jornal Tribuna da Bahia e no Bahia Hoje ao mesmo tempo. “Na prática, em redação, a gente via como o ensino era deficiente”, completa.

De lá para cá, algumas coisas mudaram. Após sua saída da Facom, a grade curricular já mudou duas vezes, no entanto, ainda dá maior ênfase à teoria em detrimento da prática jornalística. Doris, que diz não ter muita aproximação com a Facom de hoje, participou de duas bancas de graduação e gostou do que foi apresentado. “Pelo que vi, as coisas são bem mais interessantes”.

O Jornalismo

Além de tornar a informação isenta acessível, o jornalismo é um serviço de primeira necessidade e, exatamente por isso, é necessário que seja bem feito. Doris comenta que, de maneira geral, o jornalismo no Brasil ainda sofre algumas interferências, como do campo político. “Isso é compreensível, quando se trata de grandes conglomerados de comunicação ligados ao poder”, explica.

Na Bahia, para ela, um dos problemas que também afeta a profissão é o mercado de trabalho fechado e inadequado ao grande número de jornalistas recém-formados. E com um grave prognóstico, conclui: “Hoje, vejo muitos colegas migrando para a carreira acadêmica, o que é muito natural com a quantidade de faculdades de comunicação se estabelecendo na cidade. Mas vai chegar uma hora em que esse mercado vai inchar também”.