Paolo Marconi Clarissa Gaiarsa Autor do polêmico “A Censura Política na Imprensa Brasileira 1968-1978”, premiado em documentários e criador do programa Singular e Plural, da TVE, Paolo Marconi é uma figura importante do jornalismo baiano. Apesar de não atuar mais na área – ele assume hoje a função de conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios -, Marconi destacou-se em grandes matérias para Revista Veja, Jornal do Brasil e, localmente, na Tribuna da Bahia. Aluno da Faculdade de Comunicação entre 1968 e 1971, ele lembra que era uma época bastante agitada politicamente, em que os alunos protestavam contra o governo, faziam passeatas e ocupavam os prédios da UFBa como revolta diante das diversas insatisfações. A Facom era a única faculdade de comunicação da Bahia e a maioria dos alunos saia com emprego garantido na área. Ávido por informação e conhecimento, Marconi viu abrir novos mundos a partir da faculdade, viajando e revelando acontecimentos e fatos, principalmente na Bahia. Trajetória - Marconi conta que, naquela época, só havia o curso de jornalismo que enfatizava a parte prática da profissão: o aluno trabalhava basicamente com impresso, que era a maior área de mercado para os formados. “Prefiro discutir Salvador do que o espaço intergaláctico”, declara, completando que a falta de teoria no curso, ele supria com leituras por conta própria. Quando se formou, já estava inserido no mercado de trabalho que oferecia muito mais opções na época. Haviam quatro grandes jornais (Tribuna da Bahia, Jornal da Bahia, A Tarde e Diário de Notícias), além das equipes sucursais que trabalhavam localmente para mídias nacionais, como a revista Veja, em que ele trabalhou na década de 70. Trabalhou ainda para o Jornal da República e para o Coorjornal. Paolo também ensinou na Facom nesse período, mas sempre disciplinas voltadas para a prática como técnicas de reportagem, por exemplo. A censura da imprensa - O interesse de Marconi pela censura da imprensa começou desde o período da faculdade em que já trabalhava em jornais, como a Tribuna da Bahia, e sentia na pele as limitações que havia na redação. A polícia federal apresentava um livro de protocolo cheio de proibições, inicialmente voltadas à política, mas, depois, a censura foi piorando. Foi através de uma bolsa do governo francês para mestrado que Marconi começou a escrever uma monografia sobre o assunto. Porém, acabou não a concluindo, pois veio ao Brasil recolher material e não voltou. Escreveu, então, por aqui, “A Censura Política na Imprensa Brasileira” para registrar o “modus operandi” das proibições. Marconi acha que ainda há muita censura a partir de interesses, principalmente políticos e econômicos e que sempre vai existir. Principalmente em cidades pequenas, inclusive Salvador, que não é tão pequena assim. Segundo ele, “a faculdade está aí para isso, para fazer o aluno questionar e mudar a idéia de que o mundo vai continuar assim, não sou eu quem vou mudar”. Não adianta seguir a profissão apenas pelo glamour, é preciso que se goste de verdade daquilo, que se queira enfrentar as dificuldades do mercado, completa Marconi, ressaltando ainda a importância da honestidade na carreira e de revelar tudo que acontece. Últimos trabalhos - A experiência mais recente de Paolo Marconi como jornalista foi no Irdeb durante a década de 90. Lá, realizou documentários e criou o programa Singular e Plural. A idéia surgiu como conseqüência do trabalho de Paolo, que sempre viajou muito para o interior e achou interessante registrar tanta diversidade: a Bahia do recôncavo, do sertão, do litoral, etc. Enquanto uma televisão pública, seria uma boa idéia para a TVE manter um programa assim, mostrando a Bahia como ela é. “Singular porque ela é única em relação ao Brasil e plural devido a sua diversidade”. Apesar de não trabalhar na área atualmente, Marconi não desistiu do jornalismo. Ele ficou desempregado um tempo devido à polêmica do seu livro e se dedicou a assessorias até não conseguir mais seguir com a carreira jornalística. Além do cargo no Tribunal de Contas, ele deve publicar futuramente um livro sobre Cuíca de Santo Amaro, que foi um personagem importante no interior da Bahia, “fazia cordel e aceitava encomendas para esculhambar os outros”. Uma espécie de jornalista, que metia as caras e espalhava as críticas e histórias que os jornais não tinham coragem de divulgar. O livro, que já está terminado desde 1986, tem prefácio de Millôr Fernandes.
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