Entrevista com o professor André Setaro André Olivieri Setaro formou-se em Direito pela Universidade Federal da Bahia em 1974 e logo após, em 1975, prestou vestibular para Jornalismo. Possui mestrado pela Universidade Federal da Bahia, concluído em 1998 . Atualmente é professor adjunto 3 da UFBA. Começou a lecionar na Facom em 1979, quando esta ainda era ligada à escola de Biblioteconomia. Setaro sonhava em ser crítico de cinema desde criança, sua paixão pela sétima arte é tamanha que certa vez, sob a censura da ditadura quis exibir um filme soviético, ´´O Encouraçado Potenkim`` de Sergei Eisenstein, tentaram impedi-lo mas Setaro passou o filme assim mesmo e teve de discutir com a polícia. Resultado, passou a noite na cadeia. André Setaro escreveu críticas de cinema para diversos Jornais. Um deles foi o Tribuna da Bahia, no qual escreveu diariamente de 1974 a 1994. Atualmente, suas críticas ilustram a Tribuna somente às quintas. Como professor, iniciou sua carreira ensinando as disciplinas de Cinema 1 e Cinema 2. “Naquela época o currículo era outro, já tivemos três ou quatro grades curriculares que foram modificadas”, explica o professor. “Então quando entrei ensinava Cinema 1 que era linguagem e história do cinema e Cinema 2 que tinha seu conteúdo programático mais ligado ao documentário”. Hoje a Facom oferece quase dez disciplinas optativas vinculadas ao cinema, dentre elas Linguagem Cinematográfica e Cinema Internacional, lecionadas pelo professor. Quando Setaro começou a ensinar ainda não tinha sido inventado o videocassete, era usado um projetor de 16 milímetros e os filmes eram de extrema dificuldade de se encontrar. Ele os conseguia no instituto Goethe, filmes da era do cinema mudo alemão. Essa dificuldade tornava a matéria limitada e difícil de fazer uma programação. “As aulas de Cinema eram muito desgastantes, tanto para o aluno quanto para o professor”. Então Setaro, em um colapso criativo impulsionado pela necessidade, levava seus alunos para assistirem os filmes diretamente nos cinemas, que eram no centro da cidade. Reuniões que algumas vezes acabavam em bebedeira. “Naquela época a cultura, a ambiência, a vida era outra, havia uma disponibilidade maior das pessoas, não havia essa coisa de mercado, essa necessidade do trabalho, então havia uma disponibilidade maior por parte dos alunos” fala o professor em tom nostálgico lembrando da época do Vale do Canela e do bar Avalanche, onde entre uma aula e outra os alunos se reuniam para tomar um cerveja e conversar. “Hoje vivemos no melhor dos mundos” diz com animação, “Temos uma sala, uma televisão. Ainda que não seja o ideal, seria bom se pudéssemos ter aulas no auditório. Mas embora não seja o ideal, já temos um avanço considerável em comparação à época na qual eu comecei a ensinar cinema”. Hoje Setaro diz que o aluno se tornou profissional, cumpre seus horários e prazos de entrega de trabalhos, mas que por outro lado eles deixam de contemplar a aula, perdendo sua criatividade como era na época do “Hippismo”. Porém, Setaro não culpa o aluno, mas coloca o peso nas costas do mercado e da globalização, que tem transformado cada vez mais as pessoas em máquinas somente voltadas para o trabalho, consumo e capital.
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