Eles aceitaram o desafio

Adriana Soares e Veronica Sá

Há mais de sete anos os primeiros graduandos do Curso de Produção em Comunicação e Cultura da UFBA ingressaram no mercado de trabalho. Para Carlos Paiva e Daniela Matos, fazer parte da primeira turma de Produção Cultural da Faculdade de Comunicação da UFBA foi a escolha certa para suas vidas. "Essa entrada no campo da cultura fez perceber claramente a minha crença no potencial transformador das experiências culturais", é o que diz a ex-aluna Daniela Matos que, diferente dos outros três formandos da primeira turma de Produção Cultural da UFBA, retorna hoje à Facom como professora. Carlos Paiva seguiu outro caminho e optou por trabalhar na gestão pública da cultura.

O início: curso e carreira

Ao ingressarem na Facom em 1996 como alunos de Jornalismo, Daniela Matos, Carlos Paiva, Roberto Duarte, Rosane Vieira e Jean Calhau foram surpreendidos com a proposta de uma nova graduação. Inicialmente foram oferecidas dez vagas aos estudantes da Facom que desejassem atuar no campo da Comunicação e da Cultura e cinco aceitaram o desafio.

Naquele momento o curso ainda estava se estruturando e sua bibliografia sendo construída. Havia muitos professores especialistas nos campos de comunicação e alguns estudiosos da cultura, mas ainda faltava um maior estreitamento com o mercado para complementar a graduação. Por isso o curso surgiu ainda muito no campo teórico e despertou em alguns o interesse pela área acadêmica e de pesquisa.

Foi o caso de Daniela que, depois de diversas experiências na própria Universidade e no terceiro setor - como coordenadora do Núcleo de Produção Cultural do Centro de Referência Integral de Adolescentes (CRIA) -, partiu para o campo acadêmico, ensinando as disciplinas Comunicação & Marketing Institucional e Estética da Comunicação da Cultura de Massa na Faculdade da Cidade de Salvador.

Atualmente Daniela é docente da Faculdade de Comunicação da UFBA, onde ensina as disciplinas Comunicação & Cultura Contemporânea e Oficina de Gestão Cultural. Curiosamente esta última matéria não existia na época em que Daniela graduou-se e hoje representa um desafio para a professora, que tenta aliar a teoria estudada com o que aprendeu no mercado de trabalho.

Outras possibilidades

Durante o curso os alunos que não tinham tanto interesse na área teórica buscaram em estágios e em outras atividades práticas novas formas de atuar no mercado. Este foi o caso de Carlos Paiva, atual chefe de gabinete da Secretaria de Cultura da Bahia, que pensou em desistir da graduação até surgir a Central de Produção Artístico-cultural (CEPAC), proposto pela Pró-Reitoria de Extensão da UFBA e que pretendia ser uma central de eventos culturais realizados na Universidade. Nesta experiência com Mércia Queiroz, produtora e ex-professora da Facom, Paulo Lima, atual Presidente da Fundação Gregório de Matos, e a então colega Daniela Matos, Carlos pôde conhecer um outro lado da Produção Cultural, não tão teórica quanto a ensinada nas salas de aula.

Diferente de Daniela, Carlos Paiva realizou trabalhos autônomos como Produtor Cultural, participou na produção de eventos de grande porte, abriu temporariamente uma Produtora até partir para a administração pública. Nesta nova fase, trabalhou na Diretoria de Artes Visuais e Multimeios da Fundação Cultural do Estado da Bahia (DIMAS) durante cinco anos e hoje concretiza sua atuação como gestor público da cultura trabalhando no Governo da Bahia. Embora não atue na área acadêmica, Carlos Paiva acredita que “o embasamento teórico foi e é importantíssimo” para os profissionais que estão ingressando no mercado de trabalho.

As perspectivas do mercado

Tanto Carlos quanto Daniela acreditam que o mercado tem crescido muito nos últimos dez anos, oferecendo cada vez mais oportunidades para quem quer trabalhar no campo da Cultura. O mercado da Produção Cultural é gerado principalmente por recursos públicos, distribuídos entre leis de incentivo estaduais e federais e ações diretas do Governo, mas conta também com o crescimento da iniciativa privada que, nos últimos anos, aumentou sua participação no campo Cultural através de programas próprios de incentivo ou através da isenção fiscal oferecida pelo Governo aos apoiadores da cultura brasileira.

Antes as ações resumiam-se às áreas de Cinema, Música e Teatro, e hoje existem incentivos aos mais diferentes segmentos da cultura: artes cênicas, vídeo, folclore, música erudita, tradições populares, entre muitos outros. Contudo, “ainda não é um mercado maduro”, afirma Carlos Paiva que acredita haver espaço para profissionais mais empreendedores e voltados para a gestão cultural.

Por outro lado, Daniela defende que faltam políticas públicas e profissionais atuantes que valorizem a cultura popular, não só a urbana, mas também a do interior, por exemplo. Segundo ela, falta no mercado um “sujeito que pense a relação de bens simbólicos e mercado”, e a visão ‘acadêmica’ formaria este sujeito mais completo e capaz de entender o campo complexo da cultura sendo capaz de atuar na formulação de políticas públicas, na gestão cultural e não apenas na parte operacional da Produção da Cultura.

Uma formação mais completa

O curso de Produção em Comunicação e Cultura da UFBA buscou acompanhar nestes dez anos o desenvolvimento do mercado, mas ainda tem um longo caminho pela frente. Na graduação ainda falta conhecimento em outras áreas como Administração Cultural, Direito Tributário e Autoral, Economia, Artes Cênicas e Belas Artes, o que possibilitaria a formação de um profissional mais preparado para tratar da Cultura e alinhado com as necessidades do mercado.

Algumas disciplinas como Oficina de Gestão Cultural e Comunicação Estratégica já estão proporcionando ao estudante de Produção Cultural uma visão multidisciplinar da cultura. Assim, após dez anos de aprimoramento do curso, a Facom proporciona aos alunos uma formação diferenciada dos demais profissionais e "uma capacidade maior de compreender o cenário como um todo”, como ressalta Carlos Paiva.