Entrevista com Artur Carmel Gustavo Bezerra Como um típico jornalista boêmio, Artur Carmel, mais um dos ex-alunos da Facom que tem muita história para contar, fez questão de fazer de sua entrevista um bate-papo agradável num bar do Rio Vermelho, nos contando suas experiências da época em que a Faculdade de Comunicação passava do prédio em que dividia com a Faculdade de Biblioteconomia, formando a EBC (Escola de Biblioteconomia e Comunicação), para o prédio da antiga Biblioteca Central da UFBA. Na EBC desde 1981, Carmel esteve presente na invasão ao prédio da Biblioteca, que culminaria na separação entre Comunicação e Biblioteconomia e compôs um poema que revelava sua insatisfação com a situação da antiga EBC. Como foi para você cursar jornalismo na EBC? Como era em termos de estrutura, relacionamento com os professores? Eu entrei lá em 1981 e foi uma surpresa encontrar tanta gente legal e tão diferente. Eu cursava economia antes de entrar na EBC e saí quando faltavam dois semestres para terminar, então era um outro universo. Mas a escola não tinha uma estrutura muito boa em termo de equipamentos. Tínhamos uns bons professores, mas o que tinha de melhor era a “galera”, os alunos. Foi um bom período esse que eu passei na Escola, apesar da falta de estrutura. A proposta era bem clara, ensinar jornalismo. Mas a ênfase sempre foi maior na teoria. A prática acabava ficando um pouco de lado. Hoje a Facom tem equipamentos, uma estrutura legal, na época a gente não tinha, mas “dava pro gasto”. Depois, quando o curso mudou para o antigo prédio da Biblioteca Pública, melhorou bastante. Passamos a ter ilha de edição, uma rádio interna, computadores, já que foi bem no período da transição da máquina de escrever para o computador. Apesar da estrutura física do prédio não ser excelente, afinal era uma biblioteca que não sofreu muitas adaptações, a mudança foi muito boa porque desde então era “nossa” Escola. Não tínhamos mais que dividir com biblioteconomia. No início a gente até que achava bonito aquele prédio da EBC que foi onde funcionou o antigo Consulado Espanhol, mas a gente tinha que dividir com pessoas com outras cabeças, outra política. A partir da mudança, nós de Comunicação tomamos outro rumo diferente daquela Escola que era bem apática. Eu tenho até que citar a “Ode à EBC”, onde eu falo “Se é grande a anarquia, maior é a apatia”, porque não tinha muito ânimo. Eu mesmo já estava querendo logo sair de lá. Eu já vinha de outra faculdade, queria logo me formar. Qual o estímulo, a idéia de escrever a Ode à EBC? Na época, antes da invasão, houve um concurso interno de poesias. Eu já não gostava muito da falta de estrutura, queria sair dali e ir trabalhar. E aquela insatisfação começou a crescer dando origem à Ode. E como era a relação entre os alunos de jornalismo e os de biblioteconomia? Estilos completamente diferentes? Éramos muito, muito diferentes. Havia algumas pessoas – pouquíssimas – de biblioteconomia, que ainda se integravam conosco, mas no geral era meio afastado. E a gente tinha um espaço comum, mas que era meio que dominado pela turma de jornalismo, que era o Flamboyant. Se bem que quem quisesse podia chegar junto e interagir com o que havia de melhor na Escola, que era a vista para o Vale do Canela. Além dessa vista maravilhosa a gente tinha os encontros, as festas. As festas do pessoal de Comunicação eram famosas no Vale do Canela. Nós tínhamos um time de futebol que, por sinal, estava meio decadente na época que eu entrei, mas a galera conseguiu fazer com que o pessoal se unisse com aqueles “babas” que completaram agora 20 anos. Como foi a invasão ao antigo prédio da Biblioteca da UFBA? A gente ficou sabendo através do professor Antônio Dias que o antigo prédio da Biblioteca estava sendo disputado por três unidades, além de jornalismo. A própria Biblioteconomia estava na disputa. E a gente tinha que se antecipar. Ficamos sabendo numa tarde, no outro dia já estávamos lá dentro. Planejamos a invasão e ficamos dois dias, até o reitor Macedo Costa garantir que o prédio seria nosso. Ficamos acampados duas noites lá, foi sensacional. A mídia deu uma cobertura legal, sem muito estardalhaço, mas o suficiente para sensibilizar o pessoal. E aí, quando foi garantido que o prédio seria nosso, saímos de lá e houve todo o processo de mudança, com aulas nos dois lugares por um período. Mas a invasão em si foi pacífica e foi uma experiência “superlegal”. Houve alguma cena daquelas que deva ser lembrada? Algum episódio inesquecível? Teve um caso legal que foi quando fomos fazer a proposta da mudança para o reitor. Seguiu uma comissão com professores e alunos para a reitoria. Lá eu vi aqueles estofados em couro vermelho, um luxo enorme. A gente não tava conseguindo falar com o reitor, estava demorando muito, até que ele saiu para nos atender. O pessoal meio que cercou ele. E eu, que estava do outro lado da recepção da reitoria, coloquei o pé em cima do sofá vermelho – o reitor não viu porque as pessoas estavam na frente numa espécie de amparo – e falei: “Magnífico”. Todo mundo parou e olhou para mim. “Se o senhor garantir que o prédio da biblioteca passe a ser de jornalismo, nós iremos tirar aquele busto de Cervantes que tem na EBC e vamos colocar o seu no lugar”. Ele ficou todo vermelho, sem graça. Depois que o processo todo se passou, eles foram assinar a papelada e ele me procurou: “Cadê aquele rapaz que queria tirar o busto? Diga a ele que não precisa não” (risos). Foi uma cena hilária. Como foi quando você saiu da Faculdade? Sua carreira desde então? Sempre trabalhei na área do jornalismo mesmo. Atualmente eu “estou” assessor de comunicação. Eu saí da escola e fui trabalhar no Correio da Bahia, depois fui para o Jornal da Bahia, hoje extinto. Entrei em agências de publicidade e depois passei a trabalhar com rádio. Antes mesmo de me formar em jornalismo eu já era funcionário do Estado, daí passei por várias repartições, mas onde eu permaneci por mais tempo foi no IDERB, na Rádio Educadora. Fiz um programa recentemente de agronegócios, o “Resenha Rural”. E hoje estou no CRA, como assessor. Como você vê o desenvolvimento da carreira jornalística nesses últimos anos? Apesar de lenta, acho que houve uma profissionalização muito legal, de 20 anos pra cá, mas acho que o grande passo agora para todos os jornalistas deve ser a criação do Conselho de Jornalismo. Eu fiz uma pós-graduação em Relações Públicas na UNEB e vi o quanto esses profissionais estão organizados com o próprio Conselho, querendo invadir mercado, a própria assessoria de imprensa, que eles atribuem como competência do RP. Então um Conselho ajudaria na resolução desta e de outras questões muito importantes para o jornalismo no Brasil, que ainda está no nível de Federação. E é por aí... Viva à EBC e viva à Facom.
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