Antônio Dias

Cristiana Yumie Watanabe

Antônio Dias Nascimento, 61 anos, antes de entrar para a carreira acadêmica e se formar em jornalismo pela UnB e UFBA, já mostrava-se envolvido na área. Com participação na Reforma Agrária, demonstrava talento para a área da comunicação, editando a Revista “O Trabalhador Rural” e “Reforma Agrária”.

Na época em que editava revistas sobre Reforma Agrária em Brasília, Dias foi assessor de comunicação da CONTAG – Confederação dos Trabalhadores na Agricultura por quatro anos. Quando mudou-se para Salvador, continuou fazendo assessoria, mas na área da educação.

Em 1978, Dias concluiu o Curso de Jornalismo pela UFBA e pouco tempo depois recebeu um convite dos professores Othon Jambeiro e Albino Rubim para lecionar na Escola de Biblioteconomia e Comunicação como professor colaborador. Gostou muito do magistério e então resolveu prestar concurso para professor e foi aprovado em segundo lugar. Logo estava na coordenação do curso de comunicação e mesmo sem nem sonhar de que viria a ser vice-diretor da faculdade, lutava para a criação da Faculdade de Comunicação.

Nessa batalha para a criação da Facom, contou com a experiência dos professores Othon, Aloísio França Rocha e Sônia Serra. Nessa época, os professores Albino e Linda estavam na Paraíba. Foi então, que o professor Milton Cayres assumiu a direção da EBC por dez dias e viu-se a oportunidade de formalizarem o pedido da criação da Facom.

Na época, como coordenador do Colegiado, Dias assinou o pedido. Nunca, durante os 17 anos de existência da EBC, o pessoal de comunicação chegou à direção. Mas, com o pedido de separação, aceitaram fazer uma composição com eles e Dias assumiu o cargo de Vice Diretor com a condição de que apoiariam a criação da Facom.

Houve a eleição, as pressões para que a Facom fosse criada aumentaram e com o apoio dos estudantes, ocupou-se o prédio onde hoje funciona o Instituto de Saúde Coletiva. Na época, a Comissão de Vestibular estava trabalhando lá. Então, o reitor Macedo Costa enviou um emissário para negociações. A desocupação foi feita mediante uma carta do reitor, comprometendo-se de que o prédio seria destinado ao Curso de Comunicação. Assim que o vestibular terminou, o prédio foi devolvido, mas as condições eram precárias. Por isso, os professores resolveram dar aulas na rua, debaixo das árvores, para chamar atenção da comunidade. Todos os dias ocorriam assembléias com professores e alunos para avaliarem a situação que a cada dia se agravava. Foi então que resolveram convocar a imprensa para uma coletiva dentro do prédio, para mostrar em que condições estavam trabalhando.

No final do dia, resolveram partir em passeata até a Reitoria para falar com as autoridades universitárias. Na ocasião, acontecia a celebração da Páscoa da Universidade, professores e alunos bloquearam a saída de todos os participantes da missa, incluindo o Reitor e a Vice-Reitora (Eliane Azevedo). Ao falarem com o reitor, os professores Dias e Othon foram aplaudidos pelos manifestantes que os acompanhavam. O Reitor muito surpreso com a situação que desconhecia solicitou 24 horas para pensar em uma saída para a situação. Posteriormente, Dias foi chamado ao gabinete, para receber uma portaria baixada, dividindo ao meio o orçamento da EBC e atribuindo a ele, nas condições de vice-diretor, os poderes para administrar as despesas. Encaminhou-se o processo de Criação da Faculdade de Comunicação ao Conselho Universitário e criou-se uma comissão presidida pelo Superintendente de Pessoal para partilhar os bens e funcionários entre os dois cursos, Biblioteconomia e Comunicação.

Em 1984, receberam um ofício do Reitor confirmando a aprovação pelo Conselho universitário à reforma do estatuto da UFBA para criar as duas escolas: a de Biblioteconomia e Arquivologia e a Faculdade de Comunicação.

Dias conta que, quando era vice-diretor, o cargo ocupava muito o seu tempo e que não foi fácil responder por tanta ausência à sua família. Não ficou até o final do mandato e o Reitor nomeou os professores Albino Rubim e Marcos Palácios para diretor e vice respectivamente. Sendo assim, entrou com o pedido ao CNPq e a CAPES de bolsa para doutorado na Inglaterra. Teve os dois pedidos aprovados e optou pela bolsa do CNPq.

Ficou quatro anos fora e quando retornou em 1993, foi indicado pela Facom para assumir a Assessoria de Comunicação da UFBA na gestão de Felipe Serpa. Com o apoio de colegas como o Prof. Albino, conseguiram encaminhar a proposta de uma política de comunicação para a UFBA, conseguindo transferir a assessoria de comunicação para o Palácio da Reitoria, criando o UFBA em Pauta.

Restabelecida a normalidade da gestão de Serpa, Dias deixou a assessoria e voltou para a Facom onde se dedicou às atividades de ensino, de pesquisa e de extensão. Com a ameaça de Fernando Henrique Cardoso alterar a política previdenciária (1996), Dias juntamente com 50 doutores pediram aposentadoria.

Então, foi convidado pelo Centro de Recursos Humanos da Faculdade de Filosofia da UFBA para integrar o corpo de pesquisadores. Lá, ficou durante mais seis anos, realizando trabalhos como a avaliação de projetos apoiados pelo Banco Mundial aqui na Bahia, pesquisa de base para a implantação do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil na Bahia e estudos para a elaboração de planos para o desenvolvimento sustentável em 30 áreas da Reforma Agrária etc. Paralelamente, colaborou com o Doutorado em Ciências Sociais da FFCH.

Dias hoje é professor adjunto do Departamento de Ciências Humanas - Uneb, onde leciona no Curso de Relações Públicas e é professor permanente dos Cursos de Mestrado em Educação e Contemporaneidade e de Políticas Públicas e Desenvolvimento Regional. Tem realizado estudos no âmbito de comunicação interpessoal, sobretudo junto a comunidades periféricas de Salvador.